sexta-feira, 28 de maio de 2010

Liberdade...

Gente, que lindo, mais pessoas lendo o blog... Sério, quando começei isso falei que queria que fosse um fórum e que mais pessoas pudessem compartilhar suas idéias sobre o tema, mas numa boa, achei que ia ser um blog meio obscuro que TALVEZ minha meus pais e um ou dois amigos fossem ler. Doido de mais que tem mais gente lendo (e até gostando)... Ok, momento deslumbrada: over. Mais uma vez desculpem-me pela sumida, tem coisa demais acontecendo... E é sobre isso que queria escrever hoje.

Fiz um intercâmbio ano passado que me mudou profundamente, eu voltei sem saber quem era direito, não sabia se queria continuar na faculdade, terminei com meu namorado, começei a ficar mais em casa... Mil coisas... Esse semestre estou deixando TUDO acumular, devo ter feito duas provas na faculdade e só, e agora com essa porcaria de dor de cabeça o acúmulo cresceu exponencialmente.

Meus pais que são anjos e sempre me apoiaram (vide post mais abaixo...) não são cegos nem nada e perceberam que eu estava num espiral para baixo e as coisas estavam meio fora de controle, me falaram que se eu quisesse largar o curso, tudo bem. E que se eu quisesse viajar (na medida financeira possível, porque, né, a árvore de dinheiro aqui de casa não vingou) eu podia... E isso me assusta e muito, eles basicamente me deram a liberdade de fazer o que eu quiser...

Eu já mencionei aqui um texto do James Webb sobre depressão existencial (google it) no qual ele fala sobre a desintegração e reintegração positiva e negativa (google it também) e como uma das três causas da depressão existencial, especialmente em pessoas superdotadas, é a liberdade existente de podermos moldarmos nossas vidas pois somos nós que criamos nossas estruturas (um dia eu animo de traduzir esse texto do Webb, é que são quase 40 páginas, preguiça...). Enfim, assim quando meu pais me falaram que eu podia fazer o que quisesse eu meio que desesperei.

Como eu já disse antes meu maior problema ao escolher um curso de graduação não foi que eu não sabia o que queria fazer, e sim que eu não sabia o que eu NÃO queria fazer. Eu queria fazer medicina de urgência para trabalhar com os Médicos Sem Fronteiras (se vocês acharam isso bizarro é porque eu ainda não falei da idéia do kibbutz para esse ano...); eu queria fazer cinema, ser diretora e ir dizer pro Tarantino que ele é o amor da minha vida; eu, desde os 5 anos, falava pra minha mãe que ia ser astrônoma porque esse povo burro da Nasa não sacou até hoje que a chave para a viagem no tempo está nos buracos negros; eu queria mexer com matemática financeira e ia ficar gritando igual louca: "Compra! Compra tudo" na Bolsa de Valores (de Nova York, e não na de São Paulo, que fique bem claro!); eu queria fazer história, porque era a única matéria que conseguia prender minha atenção, e ia me especializar na 2a Guerra Mundial; eu queria trabalhar com política, porque acho que nosso país está num caminho que tem volta sim e eu queria fazer parte dessa volta; eu queria fazer tudo e mais um pouco.

Acabei optando por Relações Internacionais, porque, claro eu queria viajar o mundo inteiro, e a paixão por política falou mais alto. E claro que só fui descobrir o que eu realmente (acho) que quero fazer depois que tinha iniciado o curso. Eu amo cozinhar. Só que pensando na praticidade da coisa, cozinheiro ganha muito mal no Brasil em geral, em BH nem se fala, eu não tenho dinheiro para abrir um restaurante, e também não tenho coragem de pedir pros meus pais mais de mil reais por mês para pagar uma faculdade de gastronomia sem saber se vai dar certo, ou mesmo se daqui um ano eu não vou me apaixonar perdidamente por, sei lá, design gráfico, e querer largar o curso. Então, bora deixar gastronomia sob o tag de hobbie...

Voltando para a situação atual, essa proposta dos meus pais me deixou desesperada porque sou EU que vou desenhar meu futuro agora... Eu sei que deve ter muita gente falando: "Oh, queria ter seu tipo de problema, poder viajar pra onde quiser, fazer o que quiser, e ainda está reclamando". Para estas pessoas, tem um botão na parte superior direita (de quem olha) no seu navegador com um X no meio, clique e seja feliz. Para quem ainda está aqui, o problema é mais uma coisa existencial, como escolher o que eu quero fazer e quem eu quero ser, se eu não tenho a mínima idéia de onde começar.

Muitas coisas que li sobre pessoas superdotadas falam sobre o 'pensar sobre pensar' que é basicamente se perder nos seu pensamentos em relação ao que significa estar viva, estar aqui, por que eu sou eu, por que o mundo é do jeito que é, eu posso mudar alguma coisa? Eu quero mudar alguma coisa? Então a partir do momento que se processa a liberdade que possuímos de moldar nosso 'eu' e as vezes nosso ambiente, e se pensarmos que vamos morrer daqui a pouco, e que (obviamente depende da sua crença) que só vivemos uma vez, e que se eu errar, não vou ter outra chance, não existe reset da existência humana, com uma decisão eu posso arruinar minha vida. E a questão não é a covardia, não é não fazer nada por medo de errar, é o congelamento que este pensamento provoca. Eu estou paralizada no último mês, sem saber o que penso e pra onde vou. Não estou suicida nem nada, minha vida rotineira vai bem, na medida do possível, obrigada. Mas a tal decisão pendente do 'que eu vou fazer pro resto da minha vida' pesa a cada segundo.

E eu sei que muita gente me fala que é para parar de ser tão dramática e fazer qualquer coisa pelo menos para não ficar parada, e se não der certo é só recomeçar. Obviamente esta é coisa racional a se fazer. Mas vai contrabalancear racional X instinto para ver quem ganha (Tio Nietzsche disse que é o instinto, e Nietzsche é Deus, então pronto).

O objetivo deste post era falar sobre como a superdotação incorre em vários talentos e vários interesses que as vezes deixam as pessoas perdidas e sem saber como a liberdade que possuímos na maioria das escolhas muitas vezes sufoca. Eu sei que falei de um ponto de vista extremamente pessoal, mas como ponto de vista objetivo não existe, então tá aí...

5 comentários:

  1. Flávia parabéns pelo blog! É como encontrar um velho amigo numa festa esquisita... você fica aliviado.
    Sou de Curitiba soube da superdotação em setembro do ano passado, desde então venho estruturando minha vida de modo a potencializar o desenvolvimento e aproveitamento das altas habilidades...
    Escrevi um comentário razoável porém a conta do google me fez um favor e quando atualizei a página sumiu tudo! então gostaria de deixar meu msn, seria muito bom dividir experiências com os semelhantes.. abraços e continue escrevendo!

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  2. Olá!
    Eu descobri esse blog faz quase há um mês, vou deixando sempre para comentar no dia seguinte,assim como faço quase tudo na última hora. Hehehehehehe
    Adoro o seu blog! Lendo o mesmo,me identifiquei muito,pois também “tenho” SD,amo política,idiomas estrangeiros,etc.Vi que não estou só neste mundo!
    A minha história de vida é um pouco diferente da sua,mas igual a de muitos que são SD,pois não engatinhei (quando neném,já sai andando),meus pais não aceitam que eu tenho SD até hoje (acham que sou apenas uma nobre vagab....),fui erradamente diagnosticada e tratada por anos para o Transtorno Bipolar do Humor e Déficit de Atenção (TDAH),mas essa má fase já acabou,faz 3 anos que estou livre dessa vida “dopada” e vivendo como eu mesma,apenas uma moça que já aprendeu a viver sendo ela mesma que de comum não tem é nada!
    É como o pessoal me descreve “ela é estranha e diferente mas legal”!
    Já me acostumei com o fato de ser sempre a diferente da aula e na vida,isso nunca mudou,nem esse ano que iniciei a estudar na universidade e muito menos no período que fiz intercâmbio lá na terra da cerveja,mas isso não me incomoda mais!

    Tem uns sites que eu achei sobre AH/SD bem interessantes:

    http://talentdevelop.com/3777/woman-interrupted-misdiagnosis-and-medication-of-sensitivity-and-giftedness/

    http://highability.org/

    http://www.kreimeier-smith.de/giftedadults.htm

    http://www.gifted-adults.com/content/view/36/63


    Um abraço,
    Nina.

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  3. Olá Flávia!!

    Gostaria de uma indicação de livro, site ou artigo sobre os relacionamentos afetivos de adultos com altas habilidades. Não tenho SD, mas comecei a namorar um rapaz que tem e gostaria de entender melhor esse universo e entendê-lo!rs

    Obrigada, Dani.

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  4. Credo! É a primeira vez que leio as coisas que vc escreve e eu tive a desconcertante sensação de estar "me"lendo... Sou "diagnosticada"(parece doença), desde 6 anos. QI 141, bem generalista.

    Nunca convivi com outros AH, mas pelo que ando lendo parece que somos muito parecidos, muito mais parecidos entre nós do que os seres humanos "normais". Adorei o Blog, vou lê-lo com calma depois.

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  5. Caramba... Sempre tive uma sensação de diferente, facilidade em aprender coisas novas, curiosidade, criatividade, encontro relação em coisas aparentemente desconexas, etc. Aí passo em uma federal, área tecnológica e.... me fo.. O que aconteceu? Não sou mais o mesmo? Seria a falta de interesse? Penso um pouco sobre o assunto e percebo o contrário se materializando com cada vez mais força: é o excesso de interesse. Mais adulto minha gama de curiosidades aumenta e eu me disperso. Essa maldita internet (eu adoro essa Alexandria moderna ;-)é uma fonte inesgotável que pode afogar qualquer um em seu próprio veneno, de tanto que se pode obter dele. Conseguimos nos aprofundar em qualquer coisa, pensamos em coisas malucas, em conceitos diferentes, politicamente incorretos, questionamos, mas pesquisando encontramos pares em tais devaneios e alguns que ainda foram mais além e nos lembram que não somos oniscientes e que ser criativo é fácil, difícil é ser original.
    Enfim essa torrente nos leva para longe do curso normal da aprendizagem formal, e o resultado?! Pode ser bastante frustrante!
    A mente questionadora busca novamente respostas e mais uma vez recorremos à rede, ao oráculo moderno, que dá as informações corretas para quem sabe interpretá-lo. Nessa busca encontro com você, seus relatos, suas angústias, seus esclarecimentos... Percebo que me foi permitido fazer parte de um dos grupinhos que vai jogar o jogo da vida, passou um pouco o medo de fica por último e não ser escolhido por nenhuma equipe.
    Apesar de perceber diversas características aqui elencadas por você não lia sobre o assunto por considerar arrogância de minha parte pretender ser "super" alguma coisa. Mas ao ler seus artigos e as listas de características me sinto chegando a uma festinha e ali estão todos seus amigos, velhos conhecidos, e você fica pensando: como pode haver tanta coincidência? Se essas características todas são tão familiares só pode significar uma coisa: você faz parte deste grupo!
    E se somos tão parecidos em algumas características nada mais natural que compartilhemos as dificuldades enfrentadas por quem circula em um descompasso relativo ao resto do fluxo.
    Bom estar aqui lendo estes textos às 2:00 da manhã, sensação de conforto, de pertencimento, vontade de trocar mais e apesar de não estar olho no olho estou com um sorriso no rosto ;-)
    Obrigado

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