quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Não atingir o potencial...

Eu tive muita dificuldade em escolher o que eu queria fazer na universidade. Eu tirei dois anos da minha vida para pensar no que eu queria fazer. Não é que nada me atraía, pelo contrário, eu queria fazer tudo, e tudo era contraditório. Eu queria trabalhar com neurologia, com a Bolsa de Valores, com política, com culinária, com cinema, com animais. Obviamente eu não teria tempo para fazer tudo, então tive que escolher. E todos ficavam me falando que era pra escolher logo, porque se eu não gostasse era só mudar depois. Eu não via (e não vejo) as coisas assim. Se eu escolhesse a coisa errada eu estaria perdendo tempo, tempo precioso. E se eu descobrisse que eu não gostava daquilo tarde demais. A vida não tem reboot, portanto me dedicar a vida inteira a algo que eu não goste é o equivalente a um atestado de óbito em vida. Até hoje eu não sei se o que eu escolhi é o certo. E é uma luta diária saber se eu estou fazendo a escolha certa, ou desperdiçando os melhores anos da minha vida em algo que, em matéria de satisfação pessoal, vai ser inútil.

Este texto do Gifted Universe ilustra isto, e alguns outros pontos que considero extremamente relevantes, especialmente em relação ao nosso sistema de ensino, muito bem. A propósito, o nome da autora do site é Elisa. Disponível em:
http://gifteduniverse.com/category/characteristics-gifted-adult/

"Não atingir seu potencial. Quantas vezes muitos adultos superdotados encontraram esta frase em suas vidas? Quantas vezes adultos superdotados dizem isto a eles mesmos? Eu acho que o problema com esta frase é como 'atingir seu potencial' é geralmente entendido em termos estreitos. Enquanto criança, significa ter notas excepcionalmente altas. Enquanto adulto, significa ganhar muito dinheiro e/ou ser proeminente em sua profissão.

Eu achei um artigo muito interessante sobre crianças superdotadas escrito por Nicholas Colangelo chamado 'Aconselhando Estudantes Superdotados e Talentosos' (http://www.gifted.uconn.edu/nrcgt/newsletter/fall02/fall022.html). Eu achei interessante em inúmeros fatores - como mãe de crianças superdotadas, como um ex-criança superdotada e que algumas das informações poderiam ser extrapoladas e aplicadas a adultos superdotados. No entanto, o artigo incluía a seguinte citação:

'Estudantes superdotados estão sujeitos ao fracasso escolar, definido como conquistas escolares consideravelmente abaixo de seus níveis de habilidade (Neilhart et al., 2002). O resultado de tal fracasso é sempre o mesmo - performance abaixo das expectativas'

'Performance abaixo das expectativas' - expectativas de quem? E qual é o nosso entendimento de 'performance'? Obviamente nós estamos falando sobre notas. Eu não nego que notas são uma forma de entender performance escolar, mas o foco descomunal dado a elas geralmente significa que notas são a única medida de sucesso, através do custo potencial do gosto pelo processo de aprendizagem, da auto-confiança, da auto-valoração e da própria aprendizagem. Me identifico com isto, pois, nos últimos tempos tenho passado tempo considerável ajudando duas, das minhas três crianças, em seus trabalhos escolares. Quando eu sugiro a elas que a escola não é somente sobre provas e testes, mas sobre realmente entender o trabalho que estão fazendo, elas me olham como se eu fosse de outro planeta, porque o que eu estou dizendo contradiz completamente a mensagem que elas recebem na escola. Onde eu moro existe um teste provincial padronizado que é administrado em certas classes para verificar o nível de habilidade. Os professores e a escola são avaliados a respeito da performance das crianças neste teste (no entanto as crianças não o são individualmente), e é a minha percepção que quando minhas crianças estão nestas classes nas quais o teste é administrado, os professores passam o ano escolar as preparando para o teste. Quando eu sugiro que elas pensem sobre o trabalho que estão fazendo ao invés de simplesmente memorizar, eu estou contradizendo a mensagem que as crianças recebem de sua escola. De acordo com o sistema de ensino, as crianças são bem sucedidas quando elas memorizam - desafios e pensar não fazem parte da equação. *(N.d.T.: Vestibular?!? Alguém?!?)

Quando eu estava na universidade eu iria me formar em Ciências Políticas. Eu começei com o foco em Relações Internacionais, mas os exames eram pura regurgitação. Então eu mudei meu foco para filosofia política, que era extremamente desafiadora. Muitos de meus colegas evitavam a filosofia política porque seu objetivo era ir para a escola de Direito *(N.d.T.:o sistema educacional americano é bem diferente do nosso, para fazer Direito que é um curso 'Graduate' você tem que fazer um curso 'Undergraduate' que pode ser, tipo, Ciências Políticas), e já era reconhecido que tirar um 'A' regurgitando era bem mais fácil que tirar um 'A' em uma disciplina na qual memorização pura não era suficiente. Usando os critérios convencionais, minha média um pouco mais baixa resultante da mudança do foco acadêmico pode ser percebida como um fracasso, mas eu não vejo desta maneira. Por outro lado, eu não fiz a matéria de Métodos de Pesquisa na universidade porque eu tinha medo de não conseguir a nota que eu almejava devido a minha falta de habilidades matemáticas, que não são tão fortes quanto minhas habilidades linguísticas (OK, sim, também tinha o fato de que esta aula era a primeira da manhã) *(N.d.T: Hahaha! Nota pessoal - Identificação total!) Em retrospecto, eu vejo o fato de eu não tentar esta matéria como um fracasso, independente da nota que eu receberia. (A propósito, eu voltei à universidade mais tarde e fiz várias matérias de métodos estatísticos.)

Se nós tendemos a ver o sucesso escolar como sinônimo de notas, similarmente, o caminho para o sucesso profissional é definido pelo ganho de muito dinheiro e eminência profissional. Mas muitos caminhos convencionais para o 'sucesso' não atenderão as necessidades cognitivas de um adulto superdotado e/ou podem não ser alinhados com a idéia pessoal de um indivíduo de sucesso. Eu conheço um homem que escolheu não ser médico porque ele não achava que isto atenderia suas necessidades cognitivas. Ele comparava o diagnóstico médico a cozinhar a partir de um livro de receitas. Ao invés, ele optou por uma carreira em pesquisa biogenética e ele é desafiado em um nível pessoal e também é reconhecido em seu campo profissional. No entanto, se ele tivesse seguido o conselho de seus pais a respeito de sucesso profissional, ele poderia também ser considerado bem-sucedido como um médico, mas eu duvido que ele estaria tão satisfeito pessoalmente ou tão bem-sucedido profissionalmente. Ironicamente, ele é um homem extremamente modesto, e não acha que seu intelecto extraordinário é particularmente diferente ou notório.

É minha crença que a definição padrão de 'sucesso' - validação externa e ganhos materiais, raramente, se alguma vez, possam ser sentidos como medida única de sucesso, seja você superdotado ou não, a não ser que estas coisas também estejam alinhadas com o que importa para você pessoalmente. É bem possível ganhar dinheiro sem uilizar seu intelecto. N verdade, existem muitos empregos cuja compensação é muito boa, nos quais pensar demais é um defeito e não uma qualidade. Eu não estou sugerindo que ir bem na escola, ganhar muito dinheiro, ou mesmo atingir proeminência profissional é contraditório a ser superdotado, o que eu estou sugerindo é que é improvável que isto seja um fim em si mesmo. Me parece que as pessoas em geral, as superdotadas em particular, ficariam melhores se perseguissem seu próprio entendimento de sucesso, e limitassem as distrações das mensagens tradicionais de o que é sucesso."

Um comentário:

  1. Havia lido esse texto 3 anos atrás, mas não comentei. Hoje comecei a reler os textos, mas talvez vou viajar amanha (ainda não decidi), mas voltando ao assunto 'passei batido' da primeira vez, então hoje li uma frase que tem haver com esse post, a frase dizia mais ou menos assim: 'deixar de realizar um sonho é deixar morrer uma parte do seu futuro', e a rota dessa frase tinha como chegada esse comentário.

    Você e outras pessoas vão ler, e vão se lembrar que no fundo precisamos seguir nosso interior .

    Estou me esforçando, você também deve se esforçar, realizar, mesmo que outras pessoas mais próximas de você não saibam como te ajudar a chegar lá.

    E mais uma coisa, a maioria das coisas que fazemos, serve como experiência, não é algo como perder 100% da vida/tempo, penso que o importante é manter o movimento e readaptar quando for necessário algum tipo de mudança.

    Levar a vida mais simples e clara (simplifique) deixar toda a 'estática'(som) p/ trás e buscar todas as razões para iniciar/continuar pensando e agindo assim.

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